As perspectivas para os próximos meses apontam para aceleração inflacionária disseminada por toda a economia. A carestia continuará correndo a renda e reduzindo o poder de compra dos salários, que despencam no abismo da desregulamentação do trabalho promovida desde Michel Temer e aprofundada por Bolsonaro e Guedes.
No ano passado, 47% das categorias de trabalhadores analisadas pelo Dieese sequer conseguiu recompor as perdas com a inflação. O número é cinco vezes maior do que a média registrada em 2018: 9%. Em fevereiro, 60,5% das categorias tiveram reajustes abaixo da inflação, o pior resultado para um mês pelo menos desde 2008, quando o Dieese começou a analisar um conjunto fixo de categorias.
Pesquisadores da PUC-RS, do Observatório das Metrópoles e da Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL) identificaram no último trimestre de 2021 a menor renda média nas regiões metropolitanas do país desde o início da série histórica, em 2012: R$ 1.378. No trimestre anterior, também foi registrada queda.
“Estamos chegando a um nível de desigualdade que é similar àquele anterior à pandemia, mas numa sociedade mais empobrecida, com uma renda média bem mais baixa. Está todo mundo mais pobre”, disse ao G1 Andre Salata, pesquisador da PUC-RS e coordenador do estudo, produzido a partir dos dados da PNAD Contínua trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Também coordenador do estudo, o professor da UFRJ Marcelo Ribeiro aponta que a recuperação da renda, principalmente dos mais pobres, depende de uma retomada econômica anunciada há anos, e não alcançada. “Sem um processo efetivo de recuperação da atividade, dificilmente vamos ter uma economia capaz de gerar emprego e distribuir remuneração suficiente para aumentar o nível de renda das pessoas em geral”, ressaltou.
Professora e economista da Unicamp, Marilane Teixeira disse ao Brasil de Fato que o déficit já estrutural de postos de trabalho tem relação “com a incapacidade do governo de criar empregos para quem necessita”.
“A economia não se recuperou por falta de investimento públicos e o setor privado não tem como alavancar a atividade econômica como defende a equipe de Bolsonaro. Para gerar emprego é preciso política pública do Estado”, afirma a especialista em mercado de trabalho. “Sem investimento público, sem obras de infraestrutura, de moradia, enfim, sem o Estado atuar como indutor do crescimento, a roda não gira e atinge mais os mais pobres.” Com Bolsonaro e Guedes, a roda continuará emperrada.
Redação PT.org.br