Bloqueios nas rodovias provoca falta de peças nas linhas de montagem de veículos

O setor automotivo brasileiro sofreu nesta semana mais um duro golpe que afeta a sua capacidade de produzir veículos no país: o bloqueio de uma série de rodovias. Não bastassem a pandemia de covid-19, a falta de semicondutores no mercado, o conflito Rússia-Ucrânia e a alta de juros para dificultar a normalidade da atividade produtiva, agora paradas nas estradas devem diminuir ainda mais o ritmo nas linhas de produção. O bloqueio da circulação é promovido por manifestantes antidemocráticos desde segunda-feira, 31, para contestar o resultado das eleições.

O plano de imobilizar as principais vias de escoamento de produtos do país já refletiu na operação das montadoras. Dentro da Anfavea, a associação que as representa, o assunto é visto como algo entre médio e grave. Segundo apurou a reportagem junto à entidade, são vários os relatos de empresas que estão sem receber peças.

Ainda mais: há grupos de funcionários que não conseguem chegar até as fábricas para trabalhar. A saída paliativa dentro das fabricantes de automóveis, caminhões e máquinas agrícolas é manter a produção em ritmo mais lento, estendendo os turnos de forma a suprir a falta de quadro para troca de equipes. Nem todas conseguiram isso, segundo a associação, que confirmou que houve cancelamentos de turnos em parte das montadoras.

Bloqueios podem impactar no volume de produção do ano

“Vai acabar refletindo no volume de produção do mês”, informou uma fonte ligada às montadoras, revelando a expectativa em torno daquele que é o evento menos desejado pelas fabricantes, que vem se esforçando nos últimos dois anos para manter as linhas de montagem ativas apesar de todo o cenário global adverso que inviabiliza a regularidade da produção de veículos, principalmente com a escassez de semicondutores no mercado.

O setor traçou metas para o ano e paralisações como as que ocorrem no país desde a segunda-feira podem complicar a realização dos prognósticos. A perspectiva é de que o volume saído feito nas fábricas locais some em dezembro 2,3 milhões de unidades, o que configuraria um aumento de 4% sobre o produzido no ano passado. Contudo, há de se lembrar que o ritmo nas linhas caiu cerca de 13% nos últimos dois meses.

Produzir menos neste momento também pode agravar uma situação crônica que paira sobre o mercado automotivo, que é o longo tempo de entrega de veículos zero quilômetro à rede de concessionárias e, consequentemente, aos clientes. As montadoras vinham trabalhando para entregar o que já havia sido faturado pelas revendas em período que varia de três a seis meses, e um corte no escoamento dos carros montados torna o processo todo ainda mais desafiador.

Procurada pela reportagem, a Fenabrave, que é a entidade que representa as concessionárias brasileiras de veículos, informou que, por ora, ainda é muito cedo para avaliar possíveis reflexos dos bloqueios das estradas no negócio dos distribuidores. Por outro lado, não é raro observar nas imagens divulgadas desde ontem caminhões cegonha carregados imóveis em meio às longas filas que tomaram conta das rodovias nacionais.

Problemas logísticos

Para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), que representa as empresas de transporte no Brasil, os bloqueios causam transtornos econômicos e “geram dificuldades para locomoção de pessoas, inclusive enfermas, além de dificultar o acesso do transporte de produtos de primeira necessidade da população, como alimentos, medicamentos e combustíveis”.

No contexto das fabricantes de veículos, os bloqueios nas estradas também restringem o fluxo de partes e peças entre fornecedores e as linhas de produção. À reportagem, uma fonte ligada ao segmento de pesados informou que se acumulam as cargas de peças nas docas que seriam enviadas paras as montadoras. “Não chegam os caminhões que deveriam retirar os componentes. Os operadores de logística estão esperando a situação melhorar”, informou, em off, o interlocutor.

A situação, entretanto, poderá se estender ao longo da semana. Isso porque os grupos envolvidos nos bloqueios manifestam a intenção de seguir com o expediente, a despeito das operações de repressão ao movimento realizadas pelo poder público ao longo da terça-feira. Na rodovia Regis Bittencourt, que liga São Paulo a região Sul do país, caminhoneiros que participam do bloqueio afirmam que só sairão da pista “sob ordens superiores”, e que o movimento deverá seguir na quarta-feira, 2, um feriado nacional.

Na altura do quilômetro 20 da rodovia, policiais rodoviários dispersaram um grupo que se manifestava na região, mas, horas depois, as mesmas pessoas retornaram ao local para seguir com a manutenção do bloqueio.

Redação automotivebussiness.com

Foto Natália Scarabotto

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