Precarização avança em mercado de trabalho estagnado

A pífia retomada dos níveis de ocupação no país se dá às custas da queda generalizada de rendimento e do avanço da precarização. É o mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país ainda tem 12 milhões de desempregados, 27,8 milhões de trabalhadores em subocupações, 4,8 milhões de desalentados e 64,9 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.

A taxa de desocupação foi a 11,2% no trimestre encerrado em janeiro, menos do que em outubro (12,1%) e do que há um ano (14,5%), mas 0,1 ponto percentual acima do trimestre encerrado em dezembro (11,1%). O total de ocupados subiu 1,6% (1,5 milhão de pessoas) ante o trimestre anterior e 9,4% (8,2 milhões) ante o mesmo período de 2021, para 95,428 milhões de trabalhadores. O nível de ocupação subiu para 55,3%, abaixo dos 56,5% registrados em dezembro de 2019, antes da pandemia.

Em contrapartida, o rendimento real habitual voltou a cair: menos 1,1% em relação ao último trimestre e uma queda ainda maior, de 9,7%, frente ao mesmo período de 2021. A média no trimestre encerrado em janeiro ficou em R$ 2.489.

Entre trimestres, nenhuma categoria apresentou alta no rendimento. Na indústria, houve queda de 4,1% (ou menos R$ 102). As perdas salariais atingiram ainda o setor de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais: 2,1%, ou menos R$ 76 no contracheque.

No acumulado em 12 meses, o resultado é bem pior. A queda atingiu tanto trabalhadores formalizados (-7,1%) quanto os sem carteira (-9,1%). Ocupações de menor renda, como trabalhador doméstico (-3,1%) e por conta própria (-2,7%), sofreram perdas, mas elas atingiram com força a indústria (-14,5%) e o comércio (-6%), um dos principais empregadores.

A massa de rendimentos (R$ 232,594 bilhões) ficou estável em ambas as situações, mesmo com o avanço do número de ocupados. Isso sinaliza maior número de trabalhadores dividindo uma massa salarial estagnada.

“A retração dos rendimentos, que costuma ser associada ao trabalhador informal, esteve disseminada para outras formas de inserção e não apenas às relacionadas à informalidade”, explica Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE. “Embora haja expansão da ocupação e mais pessoas trabalhando, isso não está se revertendo em crescimento do rendimento dos trabalhadores em geral.”

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