Leite aumenta entre 35% a 90% nos estados, enquanto renda do trabalhador encolhe

A disparada dos preços dos alimentos essenciais é um dos assuntos mais comentados nas redes sociais desde que a inflação alcançou dois dígitos no ano passado e não parou mais de subir. A culpa, diz o povo nas postagens com fotos de produtos com preços inviáveis para o bolso da maioria, é do governo de Jair Bolsonaro (PL).  E o povo tem razão, como explicaram dois economistas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) à reportagem do Portal CUT.

Nos últimos dias, o produto que mais chamou a atenção dos brasileiros e brasileiras foi o leite integral e o tema esteve entre os mais comentados nas redes sociais. E não é para menos. O preço do litro varia, em média, de R$ 7 a R$ 10, dependendo da localização do comércio em que é vendido. Um levantamento da técnica da subseção da CUT Nacional do Dieese Adriana Marcolino, mostra a evolução dos preços do produto nos estados em que o órgão faz a pesquisa da cesta básica.

De acordo com o levantamento, o litro do leite subiu menos em Brasília, com reajuste de 35%, desde que Bolsonaro assumiu a presidência da República. O maior reajuste no mesmo período é em Santa Catarina com quase 90%. Confira abaixo os percentuais de reajustes nos estados.

Em contrapartida a renda dos trabalhadores de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), tem sido corroída pela inflação, puxada especialmente pelos aumentos dos combustíveis e dos alimentos.

Desde que Bolsonaro assumiu, em 2019, a queda foi de 8%. No primeiro trimestre daquele ano a renda média do trabalhador era de R$ 3.021,76 e no primeiro trimestre de 2022 cai para R$ 2.783,72.

Outro dado que aponta a desvalorização salarial é da pesquisa do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e  Previdência. Em maio deste ano o salário médio real de admissão para quem tem carteira assinada foi de R$ 1.898, contra um valor de R$ 1.916 em abril, e de R$ 2.010 em maio do ano passado, em valores corrigidos pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A queda foi de 5,6% em apenas um ano.

Foi neste governo também que acabou a Política de Valorização do Salário Mínimo, que atualizava o valor de acordo com o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), o que elevou o mínimo entre maio de 2005 e janeiro de 2016, a um aumento real acumulado de 72,98%.

O economista Dieese, Alexandre Ferraz, critica a forma como o governo vem abordando o combate à inflação que corrói o poder de compra do trabalhador. Segundo ele, enquanto o Banco Central (BC) continuar aumentando os juros para evitar mais consumo como estratégia para conter a disparada da inflação, o desemprego vai continuar alto porque os empresários não vão investir em novos negócios, nem ampliar os existentes. Em junho, a taxa básica de juros, a Selic, subiu para 13,25% ao ano. É o maior patamar desde janeiro de 2017, quando chegou a 13,75%.

Para Ferraz, a recuperação econômica tende a parar mesmo com o governo colocando mais dinheiro na economia com a ampliação de antigos auxílios e a criação de novos ao custo de mais de R$ 40 bilhões, aprovados pelo Senado.

“Quando o governo injeta recursos na economia, cada real provoca um crescimento no PIB e na demanda, vai rodar a economia, gerando emprego, renda e impostos, como foi comprovado pelo Bolsa Família. No entanto, ao aumentar os juros, o BC interrompe essa cadeia de crescimento, combatendo equivocadamente a inflação pelo consumo, e sem crescimento não há emprego e com a disponibilidade maior de mão de obra, os salários caem”, explica o economista.

Para o economista, infelizmente, a tendência até o final do ano é ainda mais inflação com os preços dos combustíveis aumentando, apesar da decisão do governo federal em reduzir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) cobrado no valor do diesel e da gasolina.

“Os preços no exterior vão aumentar quando acabar o verão europeu, em setembro/outubro. Com a chegada do inverno, eles vão consumir mais combustíveis, até para aquecimento. Como a guerra entre Rússia e Ucrânia não se sabe quando vai acabar, a tendência é termos um final de ano bem difícil na economia brasileira”, afirma Alexandre Ferraz.

Por que o preço do leite subiu tanto?

De acordo com Patrícia Costa, coordenadora da pesquisa da cesta básica do Dieese, o aumento do leite ocorre pela estiagem forte e o inverno, período de entressafra. O clima, segundo ela, já é esperado nessa época do ano, mas contribuem para isso, os custos de medicamentos dos animais que são importados, do farelo, da soja e milho; a dificuldade com os custos dos fretes no transporte do leite do campo para a cidade e a pressão da indústria de laticínios que compra diretamente do produtor. O problema, diz Patrícia é que o governo nada fez para evitar ou minimizar os aumentos.

“Existe um gargalo desde 2020 que se sabe, que é a pouca oferta de leite da agricultura familiar porque o governo não oferece subsídios para a sua produção. O preço do leite continua subindo por ter pouca oferta. Se o governo não deixasse ao sabor do mercado essa prática, buscando aumentar a oferta, os preços não estariam nesses patamares elevados”, diz Patrícia

Um grande problema, de acordo com a pesquisadora é o fato do leite dificilmente baixar de preço. Normalmente ele se mantém ou baixa muito pouco, ao contrário de outros alimentos como o tomate por exemplo, que na entressafra pode chegar a R$ 10, o quilo, mas pode também baixar para R$ 5

“Todo produto que passa por processamento, como o leite em caixa e a manteiga que não tem toda a produção no Brasil, incorpora os aumentos e não recua”, afirma.

O trigo é outro produto que dificilmente baixa de preço por causa da importação e a taxa de câmbio com a desvalorizada moeda brasileira encarece tudo.

“O atual governo não tem uma política para a agricultura familiar, responsável por 70% do que vai à mesa do brasileiro, mas fica dando auxílio gás, caminhoneiro, emergencial e outros benefícios, que são necessários, mas,  no entanto, não se preocupa em prover alimentos essenciais como o leite. O governo não lida com a questão real que é o mercado produzir o que é mais lucrativo para ele, em detrimento de toda a sociedade”, critica Patrícia Costa.

“Quando um governo sério vê que o preço vai explodir, ele chama um grupo técnico para ver o que vai fazer. Você não pode deixar um produto como o leite, de valor nutricional indispensável para as crianças chegar neste valor”, critica a pesquisadora Adriana Marcolino, que fez o levantamento dos preços nesses três anos e meio de governo Bolsonaro.

Confira os preços e os índices de reajustes nos preços do leite desde o início do governo Bolsonaro, nos 16 estados e no DF, até maio deste ano, onde a cesta básica é pesquisada pelo Dieese.

Salvador -preço médio R$ 5,69 – reajuste de 51,33%

Brasília – preço médio: R$ 5,75 – reajuste de 34,66%

Campo Grande ­- preço médio: R$ 5,56– reajuste de 60,69%

Goiânia – preço médio R$ 5,87– reajuste de 69,16%,

Belo Horizonte – preço médio R$ 5,37 – reajuste de 66,77%

Rio de Janeiro – preço médio R$ 6,49 – reajuste de 46,50%

São Paulo – preço médio R$ 5,92 – reajuste de 49,49%

Vitória – preço médio R$ 5,97 – reajuste de 65,37%

Curitiba – preço médio R$ 5,58 – reajuste de 63,16%

Florianópolis – preço médio R$ 5,75 – reajuste de R$ 89,77%

Porto Alegre – preço médio R$ 4,98 – reajuste de 75,97%

Belém – preço médio R$ 6,22 – reajuste de 35,81%

Aracajú – preço médio R$ 5,30 – reajuste de 32,50%

Fortaleza – preço médio R$ 5,32 – reajuste de 37,47%

João Pessoa – preço médio R$ 5,57 – reajuste de 50,54%

Natal – preço médio R$ 5,50 – reajuste de 67,68%

Recife – preço médio R$ 4,92 – reajuste de 55,21%

Redação CUT

PEC do Desespero não combate a fome e não vai melhorar orçamento das famílias

A fome que assola 33 milhões de brasileiros e brasileiras não se erradicará com o aumento de R$ 400 para R$ 600 no valor do Auxílio Brasil, aprovado na semana passada pelo Senado Federal.

O aumento é das umas medidas que constam no texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Nº 01/2022, a chamada PEC do Desespero. No total, a PEC autoriza a elevação dos gastos assistenciais do governo federal, em período eleitoral, em cerca de R$ 41,25 bilhões. A PEC está sendo analisada pela Câmara dos Deputados onde pode ser aprovada ainda esta semana, de forma acelerada e sem debate, como foi a tramitação no Senado.  

De acordo análise de Francisco Menezes, consultor da Action Aid, uma organização não governamental de combate à desigualdade social, e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), as medidas contidas na PEC têm uma série de entraves, sendo o maior deles o prazo para acabar com o adicional de R$ 200 no auxílio: 31 de dezembro deste ano, o que deixará sem o reajuste do benefício mais de 18 milhões de pessoas atendidas atualmente. Em janeiro de 2023 o valor volta a ser de R$ 400. Antes dessa decisão do Senado, o governo federal tinha dado o prazo até final do ano.

O consultor entende que além do prazo de pagamento ser curto, a alta da inflação vai corroer o poder de compra dessas famílias. Em um ano, segundo Menezes, a inflação e a não reposição de postos de trabalho perdidos, com aumento do trabalho informal, entre outros fatores, levou 14 milhões de pessoas para a insegurança alimentar grave, em apenas um ano.

Ao marcar uma data de término do auxílio de R$ 600, o governo atende parcialmente essa camada muito vulnerável e joga o problema para o futuro, sem resolver essa questão.

“Vai até dezembro e depois, como o próximo presidente eleito fará para manter o auxílio, se o atual governo vai cobrir os pagamentos com recursos da venda da Eletrobras e outros recursos que se esgotarão?, questiona Menezes.

Além do prazo curto de pagamento, o ex-presidente do Consea enumera outros problemas contidos no Auxílio Brasil que dificultam o acesso dos mais pobres ao benefício.

O recurso poderá ser automaticamente utilizado para pagar dívidas.

Para beneficiários do Auxílio Brasil, a taxa que pode ser comprometida em crédito consignado é de 40%. Essa possibilidade está contida na Medida Provisória (MP) 1106, que aumenta a margem de comprometimento de parcelas de programas sociais por crédito consignado. Neste caso, a medida aprovada primeiro, na última quarta-feira (29) pela Câmara, e ainda precisa ser analisada e votada pelo Senado.

“Num momento em que o endividamento das famílias está alto, quem recebe o auxílio é induzido a se endividar, agravando ainda mais a situação dessas famílias. Isso pode ser bom para o sistema financeiro, mas é muito perigoso para os mais pobres”, alerta Menezes.

Famílias maiores recebem o mesmo valor que famílias menores

São 18 milhões de pessoas que estão recebendo o Auxílio Brasil ainda de R$ 400, mas o valor tem um significado totalmente diferente para cada família. É injusto quem tem cinco filhos receber o mesmo do quem tem apenas um. Diferente do Bolsa Família que previa o pagamento de acordo com o número de membros e se as crianças estavam na escola.

“O governo não conseguiu, por falta de competência, uma maneira de fazer o cálculo per capita e pagar a partir disso. Isso gera injustiças ainda maiores. O poder de compra de R$ 400 é completamente diferente para uma família de uma pessoa só, ou de uma com três, ou com cinco pessoas”, afirma.

Fila vai crescer e não zerar

O governo diz que o novo valor do Auxílio Brasil será pago inclusive para as 1,7 milhão de pessoas que estão na fila do benefício. No entanto, elas já estão incluídas no cadastro. Quem não se cadastrar até a data de promulgação da emenda constitucional vai ficar de fora, gerando uma nova fila de espera.

Inscrição por aplicativos de celulares

Francisco Menezes faz uma forte crítica ao modelo de inscrição feita por aplicativo de celular. Segundo ele, quem está passando fome não tem celular e quando tem o aparelho, não tem um pacote de dados ou mesmo wi-fi. Muitos ainda de acordo com ele, moram em regiões longínquas e precisam andar quilômetros para chegar a uma localidade com sinal de internet.

“Existe um equívoco muito grande em  forçar o uso de aplicativos, ao mesmo tepo que enfraquece a tão necessária  assistência social, com drásticos cortes orçamentários deixando de fazer a busca ativa por aqueles que estão mais esses necessitados”, diz.

Programa com penduricalhos

Para Francisco, o Auxílio Brasil é um programa cheio de penduricalhos que não se justificam, nem estão sendo cumpridos, como por exemplo, a premiação para esportistas.

“Fizeram muito alarde em seu lançamento, mas até hoje não temos informações de como esse programa está sendo feito e nem quantas pessoas atingem”, critica.

O Auxílio Esporte Escolar está inserido no Auxilio Brasil. O governo anunciou no ano passado a proposta de transferência de renda que pagará R$ 400 para os inscritos na Bolsa Família e, além disto, terá um complemento de R$ 100 por 12 meses para as famílias que tiverem seus filhos competindo em Jogos Escolares.

Redação e imagem CUT

Renault confirma investimento de R$ 2 bi em nova plataforma no Brasil

Em março de 2022, a Renault deu um spoiler de que faria um novo SUV no Brasil, mas não deu detalhes sobre qual seria o nível de investimento. Agora, a fabricante francesa confirma o aporte de R$ 2 bilhões que serão destinados para a unidade de São José dos Pinhais para implantação de uma nova arquitetura e o desenvolvimento de um SUV e de um motor turbo 1.0.

O anúncio do investimento aconteceu nesta quinta-feira (30), em evento na sede do Governo do Estado do Paraná, em Curitiba. A quantia será usada na inédita plataforma CMF-B, arquitetura modular que serve a modelos como a atual geração do Clio e ao Captur europeus. Além disso, a base também possibilita a produção de modelos eletrificados.

SUV-cupê será o fruto do investimento da Renault

Para cá, a plataforma vai ser inaugurada com um novo SUV compacto de entrada da Renault. Ainda sem nome definido, o modelo terá jeitão “cupê” – como Volkswagen Nivus e o futuro Fiat Fastback – e será posicionado abaixo do Duster, no lugar do atual Stepway – a variante aventureira do Sandero.

Este futuro SUV-cupê usará o novo motor 1.0 turbo, que também faz parte do pacote de investimentos da Renault. Com três cilindros e injeção direta de combustível, o propulsor terá potência na casa dos 120 cv e trabalhará com o câmbio automático do tipo CVT que já é usado pela marca no país em modelos como Duster e Captur.

Mais utilitários esportivos no caminho

Mas a Renault não vai parar por aí. Esse investimento faz parte do Renaulution, o plano estratégico global da marca até 2025, revelado no ano passado. O programa consiste, entre outras coisas, em focar em produtos com maior valor agregado – leia-se margens mais generosas – e põe o Brasil dentro da estratégia. Para cá, eram esperados sete novos carros, mas as novas gerações do Sanero e Duster já subiram e caíram do telhado.

Certo mesmo para o Brasil é o modelo baseado no Bigster, um SUV de sete lugares para ficar posicionado acima do Captur e que já foi até confirmado pela própria marca para a América do Sul em 2024. Segundo fontes dentro da marca, também estão nos planos a terceira geração do Duster e versões híbridas de outros utilitários esportivos.

O anúncio de R$ 2 bilhões surge depois do último ciclo de R$ 1,1 bilhão anunciado em março de 2021. Este aporte foi direcionado para os lançamentos da nova geração do elétrico Zoe, do renovado Captur com motor turboflex TCe 1.3 Flex em 2021 e das atualizações das linhas Kwid, Master, Duster e Oroch

“A América Latina é de grande importância para o Renault Group e estamos investindo para oferecer nos países do continente produtos alinhados à nossa estratégia mundial”, afirma José Vicente de los Mozos, EVP Industrial do Grupo Renault.

Além do executivo, estiveram presentes no anúncio do investimento Luiz Fernando Pedrucci, presidente da Renault América Latina, Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil, e o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Júnior.

Redação e foto automotivebusiness.com.br

Ford projeta receita de R$ 500 milhões no Brasil em novo ramo de negócio

Passados quase dois anos do anúncio de encerramento da sua produção local de veículos, a Ford consegue hoje mostrar a sua nova faceta no país, agora posicionada como empresa global de engenharia veicular. Na sexta-feira, 1º, a companhia apresentou em detalhes como a operação brasileira está inserida em um ecossistema internacional de pesquisa e desenvolvimento, os projetos em execução e uma meta de gerar R$ 500 milhões em receitas para este ano por meio destes novos negócios.

Ao longo do seu processo de reestruturação, que envolveu o fechamento de três fábricas no país, a montadora definiu nove centros de pesquisa e desenvolvimento no mundo, sendo um deles o Brasil. Por aqui, a nova estrutura é formada por uma área de design e novas tecnologias em Salvador (BA), seis galpões em um condomínio industrial em Camaçari (BA), chamado de Ford Park, a já conhecida pistas de testes em Tatuí (SP) e uma área de pesquisa em Pacheco, na Argentina.

As tarefas realizadas em cada uma dessas unidades, as daqui e as do exterior, são definidas em função da linha de veículos de cada região. No Brasil, por exemplo, os mais de 1,5 mil engenheiros que compõem o quadro da empresa atendem às demandas dos projetos de veículos que são direcionandos para mercados das Américas do Norte e Central. A empresa informou que 85% da lista de serviços prestados pela engenharia local hoje tem a ver com essas regiões

Participação brasileira

A respeito do que é feito de fato nessa nova estrutura, a companhia explicou que os engenheiros brasileiros estão debruçados sobre projetos intercompany de design e sistemas de entretenimento de veículos que devem chegar ao mercado em entre dois e 10 anos. Os Ford Bronco e Maverick, dois lançamentos recentes da empresa, tiveram a participação da equipe local nessas áreas, ainda que a manufatura de ambos seja realizada a milhares de quilômetros do país.

“A empresa percebeu que não havia como ter escala e rentabilidade produzindo veículos apenas para mercados específicos. Nossa participação era pequena para justificar novos investimentos. Hoje integramos uma ampla rede de engenharia que executa projetos globais, o que mostra que a equipe local tem competência em termos de conhecimento para transformar o Brasil em hub de tecnologia”, disse Daniel Justo, presidente para a América do Sul.Em Salvador são realizados, por exemplo, pesquisas que utilizam realidade virtual para definir design e sistemas de entretenimento dos veículos futuros da Ford. Já em Camaçari, no Ford Park, a realidade virtual também é aplicada no estudo de novos componentes e sistemas de powertrain. Ali também funciona a startup D-Ford, voltada para a área da inovação aplicada em produtos e manufatura.

Uma engenharia ocidental

Enquanto outras montadoras concentraram seus centros de desenvolvimento nas matrizes e na Ásia, a Ford optou por concentrar a estrutura de pesquisa no ocidente, ainda que das noves unidades, uma esteja instalada na Austrália e outra na China. “A nossa estrutura na China funciona apenas para atender ao mercado chinês, dado o seu tamanho”, disse Andre Oliveira, diretor de engenharia na América do Sul.

Segundo o executivo, o Brasil nesse contexto surge como uma localidade que além de possuir engenheiros especializados no setor automotivo, também se mostra economicamente viável por causa da desvalorização do câmbio ante o dólar. “Aqui no Brasil, por exemplo, muita gente já trabalhou na matriz, nos Estados Unidos. Também é uma região praticamente no mesmo fuso horário da matriz. Mas também é considerado o câmbio nessa equação.”

O desenho desse ecossistema de certa forma beneficia as operações da fabricante, uma vez que está afastada de áreas de conflito e de intempéries naturais, dois fatores que refletem diretamente nas atividades de empresas que mantém operações similares no continentes asiático, por exemplo. Com o fechamento das fábricas ocorridas na China por causa da Covid-19, por exemplo, muitas empresas empresas do setor automotivo passaram a considerar lugares mais seguros para produzir.

Híbridos a caminho?

Sobre a oferta futura de veículos importados no mercado brasileiro, a empresa não confirma nem descarta trazer ao Brasil modelos equipados com powertrain híbrido, ainda que sua estratégia global aponte para uma oferta 100% elétrica.

Assim que a empresa anunciou o fim da sua produção local, a montadora informou em comunicado que tinha em mãos um plano de trazer ao Brasil um modelo híbrido plug-in. Em sua oferta no exterior, a Ford possui versões híbridas dos SUVs Ford Escape e Explorer, e das picapes Maverick e F-150.

Redação e foto automotivebusiness.com.br

Salvador está entre as capitais com a redução no Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S)

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) recuou em quatro das sete capitais pesquisadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), de maio para junho deste ano. A maior queda foi registrada no Rio de Janeiro, já que a inflação caiu 0,46 ponto percentual no período, ao passar de 0,51% para 0,05%.

Outras quedas foram registradas no Recife (-0,27 ponto percentual, ao passar de 1,28% para 1,01%), São Paulo (-0,23 ponto percentual, ao passar de 0,54% para 0,31%), Salvador (-0,09 ponto percentual, ao passar de 1,15% para 1,06%).

Apesar disso, o IPC-S nacional, divulgado na semana passada subiu 0,17 percentual, ao passar de 0,50% em maio para 0,67% em junho.

O aumento da taxa foi puxado por três capitais. A maior alta foi observada em Brasília: 1,33 ponto percentual, ao passar de uma deflação (queda de preços) de 0,14% para uma inflação de 1,19% no período.

Também tiveram altas na taxa as cidades de Belo Horizonte (0,80 ponto percentual, ao passar de 0,12% para 0,92%) e Porto Alegre (0,58 ponto percentual, ao passar de 0,34% para 0,92%).

O IPC-S é calculado com base em preços coletados semanalmente em sete das maiores cidades do país.


Redação A Tarde/Agência Brasil

Preço do leite continua a subir e deve causar onda de desnutrição

Pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) sobre o preço do leite traz uma notícia preocupante tanto para as famílias brasileiras quanto para os produtores e as indústrias.

Segundo a análise, o preço do leite ao produtor já acumula aumento real de 14,5% nos cinco primeiros meses do ano. E junho pode fechar com nova alta de 5%.

Com isso, a expectativa é de que o preço do leite e de produtos derivados continue subindo. Vale lembrar que, de maio de 2021 a abril passado, o leite longa vida subiu 23,4%, muito acima da inflação do período, que ficou em 12,13%.

Padilha: Brasil está produzindo uma geração de desnutridos

Essa disparada do preço do leite, no momento em que 33 milhões passam fome e quase 60% dos brasileiros estão em insegurança alimentar, fará surgir no país uma geração de desnutridos, com impactos que podem durar anos, alerta o deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP).

“Isso tem provocado situações como a que me contou uma mãe na maior favela da cidade de São Paulo, Heliópolis. Três meses atrás, ela tinha decidido que o leite só seria para as crianças. Os adultos da casa não tomariam mais. Encontrei essa senhora na semana passada e ela disse que hoje a situação é pior. Ela está sendo obrigada a diluir o leite em água para que as crianças tenham o gostinho de estar tomando leite, embora não estejam ingerindo os nutrientes necessários”, conta Padilha.

Para o deputado, essa é uma das marcas do atual governo. “A crueldade do governo Bolsonaro, que tirou os médicos do Mais Médicos da população brasileira, é agora tirar o prato de comida e o leite das crianças”, avalia.

Bohn Gass: a culpa não é do produtor

O deputado federal Bohn Gass (PT-RS) concorda com Padilha na responsabilização do atual governo por esse quadro. “O elevado preço para o consumidor não é culpa do agricultor”, garante o parlamentar.

“O agricultor, para produzir, precisa usar diesel, que está caríssimo; precisa adubar a pastagem, e o adubo está caríssimo; precisa comprar sementes, que estão caríssimas. Os insumos todos estão caríssimos e são responsabilidade do governo, porque todos são preços que poderiam ser controlados”, explica.

Ao mesmo tempo, lembra Bohn Gass, os trabalhadores estão com o salário congelado e consomem cada vez menos, o que também ajuda a elevar o preço nos supermercados. E mesmo que o preço do leite pago pela indústria esteja subindo, essa alta não compensa. “Muitos agricultores estão, neste momento, inclusive, deixando de atuar na produção do leite, em razão desses altos custos”, ressalta.

Redação pt.org.br

Lula: “Não há avanço sem luta, e o povo é especialista na arte de lutar”

Para festejar a histórica data do Dia da Independência do Brasil na Bahia, o ex-presidente Lula participou de ato público em Salvador, neste sábado (2). No evento, que contou com a presença de lideranças estaduais e dos partidos aliados que integram a frente Vamos Juntos pelo Brasil, Lula salientou a importância da Bahia na história nacional, sempre ao lado das lutas do povo brasileiro.

“Talvez em nenhum outro estado desse país o povo brasileiro tenha sido tão protagonista da sua própria história”, discursou Lula. “A independência não foi feita por um pacto entre as elites, ela foi conquistada, a duras penas, por negros, brancos, indígenas, mulheres e homens, que decidiram dar um basta à opressão”.

Lula citou movimentos históricos como a Conjuração Baiana, a Revolta dos Malês e a Guerra de Canudos, conflitos que colocaram a liberdade no centro das lutas populares do resto do país, como a Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro e da Cabaganem, no Pará e a Balaiada, no Maranhão, entre muitas outras.

“Não pode haver avanço sem luta, e o povo brasileiro é um especialista na arte de lutar. Não há um único dia em que o nosso povo não seja obrigado a exercitar toda a sua extraordinária capacidade de resistência, sobretudo nesses quatro anos de desgoverno”, destacou Lula.

Lula afirmou que o atual governo está “em guerra” contra o povo brasileiro. “Uma guerra que tem como armas a fome, o desemprego, a inflação, o endividamento das famílias. Que aprofunda a desigualdade, destrói patrimônios, devasta o meio ambiente, ataca a ciência e a cultura, condena o Brasil ao atraso e ao isolamento internacional e coloca em xeque a democracia e a soberania”, elencou.

‘Uma guerra que tem como alvos preferenciais as mulheres, os negros, o jovem da periferia, os povos indígenas e a parcela mais pobre da nossa população”, apontou, reiterando que o atual governo não poupa ninguém: da classe média aos micro empreendedores e empresários comprometidos com a geração de empregos, todos são atingidos por um governo sem compromisso com o país.

“Lutar por uma nova independência é defender a Petrobras, a Eletrobrás e os Correios, empresas que foram construídas com o suor do povo brasileiro e são peças-chave para a nossa soberania”, defendeu.

Liderança das mulheres

Lula celebrou a liderança histórica das mulheres na luta pela libertação do povo baiano. “O lugar da mulher é onde ela quiser estar, na luta pela liberdade. Maria Quitéria, Maria Felipe e Joana Angélica representam, não só as mulheres baianas que lutaram pela independência do Brasil, mas também as mulheres brasileiras que hoje lutam o dia-a-dia de uma guerra injusta, recebendo menos salários que os homens na mesma função,  e cuidado dos filhos e netos”, definiu.

Lula chamou a atenção para mulheres que são “expostas ao machismo, ao feminicídio, aos estupros e outras formas de violência. Como as mulheres que são vítimas, todos os dias, no Brasil, como as que foram vítimas de assédio pelo presidente da Caixa Econômica”.  E defendeu uma participação igualitária das mulheres, seja nas profissões, ou na política.

Compromisso com quem mais precisa

Lula argumentou ainda pela implementação de um projeto inclusivo, com oportunidades de trabalho, acesso ao lazer e à cultura para todas as camadas da população, especialmente os jovens, para que possam sonhar com um futuro melhor. “Combinamos crescimento econômico e inclusão social como nunca antes na história do Brasil”, explicou Lula. “Mas é preciso fazer muito mais, até porque, tudo o que fizemos está sendo destruído pelo atual governo”.

Lula apontou que um governo de verdade deve sempre colocar o povo em primeiro lugar, sobretudo os que mais necessitam de um Estado acolhedor e inclusivo. “Nosso primeiro e mais urgente compromisso é com a imensa maioria da população brasileira”, prometeu.

“Aqueles que durante nossos governos conquistaram o direito de fazer pelo menos três refeições de qualidade por dia e ter uma vida digna, e que agora sofrem na fila dos ossos e dos caminhões de lixo”, salientou. “A retomada do crescimento, a geração de empregos e a inclusão social serão tarefas prioritárias em nosso governo”

Reconstrução do Brasil

Presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann saldou o povo baiano por sua participação histórica na luta popular e o parabenizou pela demonstração de carinho com o ex-presidente Lula. “Sentimos a energia, a vibração, a vontade de ter Lula de novo comandando esse país”, celebrou.

“Estamos aqui com os companheiros de partido, sete partidos, juntos, que estão nesse movimento para reconstruir o Brasil. Vamos unir todas as forças que pudermos para tirar da cadeira da República esse traste que está sentado lá e que faz tanto mal ao povo brasileiro. O Brasil não merece Bolsonaro”, desabafou Gleisi

Ela reafirmou a importância da disputa política na luta para vencer o fascismo. “Precisamos estar organizados, firmes, criar os comitês populares de luta, conversar com as pessoas, nos organizar nas ruas e nas redes. Cada um de vocês, que sabe a importância de Lula voltar, tem que ser um porta-voz dessa pré-campanha”.

“2 de outubro, partida dos tiranos”

Em discurso eufórico, o ex-governador Geraldo Alckmin e pré-candidato a vice-presidente fez referência ao Hino da Bahia. “2 de outubro, partida dos tiranos! 2 de outubro, chegada dos que vivem pela liberdade: Lula presidente!”, bradou Alckmin.

“Vivemos hoje no Brasil o mais cruel e desastroso governo da história”, lamentou Alckmin. “Triste período, mas iniciamos, a partir de hoje, uma caminhada. Que Deus ilumine a consciência de cada brasileiro e brasileira, para a que gente possa ter um novo período, com a volta de Lula à Presidência”.

“O presidente Lula vai tirar o Brasil do Mapa da Fome e recolocá-lo no mapa do mundo. [Vai] atrair investimento, trazer emprego, oportunidade para a juventude, melhorar o salário mínimo, recuperar a vida da nossa população”, apontou Alckmin.

Encruzilhada

O senador e ex-governador da Bahia Jaques Wagner afirmou que o Brasil estará numa encruzilhada no mês de outubro, com dois caminhos a seguir: “A Bahia e o Brasil da esperança, da prosperidade, da solidariedade, do amor, da família, do carinho, da espiritualidade, ou o Brasil que desagrega, que contagia, que mata, que odeia, que fez, em apenas três anos, o número de fuzis nas mãos dos civis sair de 100 mil para 670 mil”, enumerou.

“Ele [Bolsonaro] não sabe distribuir livros, ele prefere distribuir armas, que são a única coisa que ele tem na cabeça”, definiu Wagner.

O senador reforçou o importante papel da Bahia na libertação do povo brasileiro. “Dom Pedro deu o grito, mas fomos nós baianos, negros, índios, cablocos, que colocaram para fora os portugueses que queriam manter o Brasil como colônia. Foi aqui onde mais se morreu pela independência, na batalha de Pirajá. Para nós, a verdadeira independência do Brasil é 2 de julho”.

Antes e depois de Lula

O governador da Bahia Rui Costa comparou o que era o estado antes da eleição de Lula em 2003 e o que passou a ser quando o petista deixou a Presidência. “Antes de Lula, a Bahia tinha uma universidade federal. Agora, a Bahia tem seis. Antes, tinha uma escola técnica federal. Depois dele, 36”, lembrou. “O Brasil espera muito da Bahia, Lula precisa da Bahia, dos baianos. A Bahia precisa de Lula”.

Costa frisou que os governos da Bahia seguiram o modelo de governo de Lula. “Governar é cuidar de gente, das pessoas”, resumiu. “Agora, a escola do pobre tem teatro, piscina, campo, educação profissional”, festejou. “O que você plantou na alma desse povo foi esperança”.

Aliança para pacificar o Brasil

O senador Otto Alencar (PSD-BA) destacou o papel essencial do ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato a vice-presidente do movimento Vamos Juntos pelo  Brasil. “Quando assisti o seu discurso no lançamento da pré-candidatura de Lula, vi a expressão de um brasileiro que estendeu a mão para fazer uma aliança com Lula para pacificar, harmonizar, encontrar um caminho de dar uma solução ao Brasil”, elogiou o senador.

Alencar também criticou Bolsonaro por mais uma tentativa de enganar o povo brasileiro com a aprovação de medidas tardias de benefícios sociais no Congresso. “Nenhum presidente passa 3 anos e seis meses, na torpeza, na malvadeza, fazendo o mal ao povo brasileiro, para se recuperar em três meses”, atacou.

“Quem tem fome, não pode sonhar”

Jerônimo Rodrigues, pré-candidato ao governo da Bahia pelo PT, afirmou que  em outubro o Brasil irá celebrar uma nova independência, iniciando um caminho para erradicar a fome, o desemprego e a inflação.

“É muito triste, machuca bastante a gente, ver quase 40 milhões de pessoas no Brasil, nossos irmãos, acordarem de manhã sem saber o que vão botar no prato dos filhos””, lamentou Jerônimo. “Ver, ler, ouvir a maldita fila da fome, do osso, do pé de galinha, isso não combina com o Brasil. É a fila da humilhação, da miséria. Quem tem fome, não pode sonhar, não tem força para lutar e trabalhar.É compromisso nosso resgatar a esperança, os sonhos, por educação, estradas, água, luz”, assegurou.

Ele lembrou do compromisso assumido e cumprido por Lula quando tomou posse, em 2003, de que todos os brasileiros deveriam ter três refeições ao dia. “O senhor vai ter, [Lula], de reler aquele parágrafo [do discurso de posse], em janeiro de 2023”, afirmou Jerônimo, reiterando que a Bahia estará ao lado do próximo presidente, lutando para vencer a fome.

Redação pt.org.br

Foto: Ricardo Stuckert

2 de Julho: CUT vai às ruas em defesa da classe trabalhadora, pela vida e democracia

Lutar pela vida não foi uma tarefa fácil no período da pandemia. Milhares de pessoas perderam suas vidas e outros milhões de brasileiros e brasileiras estão desempregados ou seguem abaixo da linha da pobreza. Somado ao fato de a nação estar sob comando de um governante nefasto e usurpador dos direitos dos trabalhadores. Diante desse cenário, após 2 anos sem as comemorações da festa cívica mais importante do calendário baiano, a Central Única dos Trabalhadores da Bahia, retorna às ruas para reafirmar as principais bandeiras de luta da classe trabalhadora. “É um ano de recomeço, no 2 de julho, temos o compromisso cívico de relembrar guerreiros e guerreiras que lutaram pela emancipação do nosso povo em 1823, aproveitamos o momento para reafirmar grandes bandeiras de lutas da classe trabalhadora em um país desordenado. Mas, especialmente esse ano, há indícios de boas notícias. Há esperança entre nós com a recondução do presidente operário, torneiro mecânico, ao mais alto cargo do país”, destacou Leninha, presidenta da CUT Bahia, destacando que a Bahia é um dos principais centros estratégicos da disputa eleitoral no país.

Redação e foto CUT Bahia

Dez milhões de pessoas tornaram-se pobres em dois anos de Bolsonaro

A catastrófica condução socioeconômica do desgoverno Bolsonaro fez quase dez milhões de pessoas cruzarem para baixo a linha da pobreza no Brasil entre 2019 e 2021. “Foram 9,6 milhões de pessoas que cruzaram a linha. É quase a população de Portugal”, assusta-se o diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), Marcelo Neri.

“Os maiores nível e incremento da pobreza na pandemia são robustos. Eles pintam o mapa da pobreza brasileiro em tons mais fortes de tinta fresca”, afirma o pesquisador na apresentação do Mapa da Nova Pobreza. Segundo ele, “a pobreza nunca esteve tão alta no país quanto no ano passado, desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, em 2012”.

Divulgado nesta quarta-feira (29), o estudo coordenado por Neri revela que o contingente de pessoas com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros em 2021. São 29,6%, ou quase um terço da população total de brasileiros, tentando sobreviver com menos de meio salário mínimo a cada mês.

“A pobreza nunca esteve tão alta no país quanto no ano passado, desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, em 2012”, segundo o diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), Marcelo Neri.

“Demonstramos neste trabalho que 2021 é ponto de máxima pobreza dessas séries anuais para uma variedade de coletas amostrais, conceitos de renda, indicadores e linhas de pobreza testados”, explica o economista. Foram analisados dados de pobreza entre os 146 estratos geográficos nacionais e todas as Unidades da Federação.

A pesquisa avaliou o nível e a evolução espacial da pobreza durante os últimos anos com base em microdados da Pnad Contínua Anual, divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Santa Catarina (10,16%) foi o estado com a menor taxa de pobreza registrada, e o Maranhão (57,90%), com a maior.

“Aquele com maior pobreza em 2021 é o Litoral e Baixada Maranhense, com 72,59%. Já a menor está no município de Florianópolis, com 5,7%. Uma relação de 12,7 para um, refletindo a conhecida desigualdade geográfica brasileira”, conclui Neri.

Montanha-russa de ascensão e decadência em três anos

Em meados de junho, a FGV Social publicou outro estudo (A Montanha-Russa da Pobreza), revelando que a mudança da proporção de pobres se acelerou entre 2020 e 2021. De um ano para outro, o salto foi de 42,11%, correspondendo a 7,2 milhões de novos pobres em relação a 2020 e 3,6 milhões de novos pobres em relação ao pré-pandemia.

“Em termos da última fotografia anual da pobreza, 10,8% da população estava abaixo da linha de pobreza de R$ 210 per capita em 2021, ou cerca de 23 milhões de pessoas. Em termos relativos ou absolutos, é o nível mais alto da série histórica”, afirma Neri na apresentação. “Esta linha, embora baixa para suprir necessidades básicas, é usada como critério de elegibilidade a algum benefício pelo Auxílio Brasil.”

Neri diz que “os brasileiros mais pobres têm de fato vivido uma montanha-russa nos três últimos anos”. Conforme o pesquisador, a renda mensal dos 10% mais pobres já vinha em queda antes da chegada da covid-19, despencando a menos da metade no início do isolamento social (R$ 114 em novembro de 2019 a R$ 52 em março de 2020).

A renda do grupo foi mais do que quadruplicada até o pico histórico em agosto de 2020 (R$ 215), que Neri considera “a fase mais generosa do Auxílio Emergencial”. Mas daquele pico, o valor desabou novamente, ficando 15,8% abaixo do nível pré-pandemia (R$ 96) em novembro de 2021.

“Este último valor projeta tendência negativa, pois incorpora os valores nominais fixados do novo Auxílio Brasil face o cenário prospectivo de inflação alta, especialmente para baixa renda”, ressalta o pesquisador. “Além de prosperidade e igualdade, estabilidade é um atributo fundamental para o bem estar social. Tal como as duas primeiras, ela se encontra em falta no caso brasileiro”, finaliza.

Golpe e Bolsonaro destruíram conquistas da população

O diretor do FGV Social coordenou um estudo apresentado em 2008 sobre a “nova classe média”. A pesquisa, hoje clássica, abordou a parte da população anteriormente classificada como classe de renda D que, na segunda metade da década de 2000, ascendeu à classe de renda C.

Entre 2003 e 2008, o número de brasileiros estatisticamente considerados como pobres se reduziu em três milhões. Segundo pesquisa do Instituto Data Popular, mais de 42 milhões de brasileiros ascenderam à nova classe média até 2014.

O consumo dessa classe que finalmente ascendera socialmente injetou anualmente cerca de R$ 1,1 trilhão na economia brasileira, ajudando o país a minimizar os impactos da crise internacional de 2008-2011. Em 2014, com pleno emprego, alta taxa de formalização do trabalho e 92% dos reajustes de data-base superiores à inflação, a classe C brasileira, isoladamente, tornou-se o 18º maior mercado de consumo do mundo.

Após a reeleição de Dilma Rousseff, a crise promovida pelos derrotados em 2014 fez com que seis milhões de brasileiros deixassem essa faixa de renda entre 2015 e 2018. Em 2014, as pessoas que viviam na pobreza eram 9,8% da população, menor índice da série histórica. Pelos cálculos de Marcelo Neri, mesmo que o Brasil crescesse, em média, 2,5% ao ano, só voltaria a ostentar índices de pobreza semelhantes a 2014 em 2030.

Da Redação, com informações da FGV

Foto observatorio3setor.org.br

Herança da Reforma Trabalhista: 32,5 milhões de empregos precários

Estudo da B3 Social e a Fundação Arymax, em parceria com o Instituto Veredas, revela que 32,5 milhões de brasileiros e brasileiras têm trabalhos precários. Deste total, 19,7 milhões (60,5%) sobrevivem de bicos que não lhes garantem um salário sequer para suprir suas necessidades básicas. São os chamados informais de “subsistência”, que aceitam trabalhos de até dois salários mínimos (R$ 2.424)

Os bicos foram legalizados pela reforma Trabalhista de 2017, no governo Michel Temer (MDB), por meio do trabalho intermitente, que não estabelece um salário fixo. A nova modalidade prevê que o trabalhador fique à disposição do patrão e só receba pelos dias ou horas em que for chamado para trabalhar, podendo, portanto, receber menos de um salário mínimo por mês.

Outra criação da reforma de Temer é o que os pesquisadores chamam trabalhadores formais frágeis, que é como eles definem pessoas que têm carteira assinada ou CNPJ, desempenham funções com remuneração mais baixa e enfrentam situações de incerteza ou vulnerabilidade, assim como os informais. A pesquisa constatou que dos 32,5 milhões de informais, 6,9 milhões (21%) são trabalhadores formais frágeis.

“Esse é o resultado dos ataques aos direitos dos trabalhadores promovido pela reforma de Temer, que prometeu gerar 6 milhões de empregos, mas o que conseguiu foi aumentar o desemprego, a precarização do trabalho, a exploração sem limites do trabalhador”, diz o secretário de Relações do Trabalho da CUT Nacional, Ari Aloraldo do Nascimento.

“Muitos ganhavam um salário mínimo e mesmo os que tinham uma situação melhor perderam o emprego formal e foram empurrados para a informalidade. Por isso que há essa vulnerabilidade social”, diz Ari Aloraldo, se referindo aos 33 milhões de brasileiros que convivem com a fome no Brasil.

“Como o atual presidente da República não fez a contrarreforma, muito tempo contrário, tentou aprofundar a reforma de Temer, e ainda acabou com a política de valorização do salário mínimo, o trabalhador tem de escolher entre comer, pagar as contas, ou ter um lugar morar”, analisa o dirigente.

Só em São Paulo, a população em situação de rua cresceu 31% em 2 anos – de 24.344, em 2019, para 31.884 no final de 2021. Para Ari, é o emprego precarizado que tem levado famílias inteiras a morar nas ruas da capital paulista.

“Eu vejo na região onde moro, pais e mães de família trocando de roupa no meio da rua, colocando um jeans, uma camisa ‘melhor’ e ir para o trabalho que, com certeza, é um bico, sem carteira assinada, sem FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço], sem 13º salário, sem férias remuneradas”, pontua o dirigente.

Educação e racismo

Outra conclusão do estudo do B3 Social, Fundação Arymax e Instituto Veredas é o de que 75,4% desses 19,7 milhões de informais de subsistência, têm ensino fundamental incompleto ou inferior e 64% deles eram negros, o que demonstra que o Brasil é o país da desigualdade social e do racismo estrutural.

“O trabalhador brasileiro está jogado à própria sorte, depois que a reforma Trabalhista deu poder aos patrões de pagar uma miséria, e ainda não dar nenhum retorno à sociedade. Infelizmente, esses maus patrões não se importam de ver as mazelas da sociedade, como se eles não tivessem nenhuma reponsabilidade sobre essa crise, da mesma forma como o atual governo se comporta”, conclui Ari Aloraldo.

Características do trabalhador informal

O estudo apontou ainda que 5,2 milhões de informais pesquisados têm potencial produtivo e apenas 700 mil o são por opção.

Informais de subsistência: recorrem à informalidade para sobreviver em vagas de até dois salários mínimos

Informais com potencial produtivo: estão à frente do grupo anterior em formação e renda (de dois a cinco salários), mas seguem marcados pela incerteza

Informais por opção: têm mais de cinco salários mínimos e podem alcançar a formalidade, mas permanecem como informais para evitar custos ou burocracias

Formais frágeis: têm vagas formais (CNPJ ou carteira), mas ainda incertas e com baixa remuneração (até dois salários). Exemplos: trabalhos atípicos (intermitentes) e relações de emprego disfarçadas (contrato de assalariado não regular).

Metodologia

O estudo analisou o terceiro trimestre de 2021, a partir da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e foi divulgado pelo jornal Folha de São Paulo.

Redação CUT